No recado, era às dez
Mas o pecado
veio às onze.
Antes era um momento insône
Já agora,
é um ato que nos consome.
Pedaço de prazer/ perdido/ num canto do quarto escuro/ inferno paraíso/ vivo ou morto/ te procuro... (Leminski)
Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas...
Oiço as olaias rindo desgrenhadas...
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p’las estradas...
Os meus lábios são brancos como lagos...
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras...
Sou chama e neve branca e misteriosa...
e sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!
A contemplação é pouco
Inquieta
Acalma os batimentos
No momento um atropelo
de ensinamentos e sentimentos
Ele
É perpétuo, perpétuo afeto.
É:
A pausa na minha impulsão
E o sentido para o meu perdão.
Dos olhos
Vem a calma
Do viver
A minha alma.
Ah, que coisa, no mínimo cruel.
Horas noturnas que tornam-se apenas efêmeras e soturnas.
Os pensamentos e sentimentos não bastam.
Fujo do cheiro, mas eles me assolam.
O toque desbota e vejo uma simulação na TV.
Fujo do simulacro, mas o espelho reflete você.
Aqui, palavras no vento,
Passos no relento.
Janela que não enquadra a paisagem que eu queria estar
Este que embala não tem a arte de enlevar.
Vejo no reflexo o que já foi
Soturnamente, ele ainda existe aqui.
No simulacro fica o riso
Já no relento
Aquilo que eu, artisticamente, tento.
Imagem: Site Olhares