quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

(Relato de Jeremy) - O número 9


Foi após um jantar.

Ela: Cabelos castanhos presos em um coque alto, brincos pouco chamativos, maquiagem destacada
em seus olhos, unhas compridas pintadas de vermelho.
Seu corpo, superficialmente, vestia azul escuro - um vestido azul com botões em todo o seu comprimento, meias pretas,
salto protuberante.

Eu: já nem importa.

Me olhava muito, como que pedindo que eu a desvendasse.
Nunca surgiu tão misteriosa e isso me desconsertava. Ela parecia dominar cada segundo.
Falava pouco e tinha a voz, inconsequentemente, macia, contrariando aquele olhar avassalador que me engolia com o consentimento
da minha curiosidade e vontade.

Ela é meu desvio. É a fuga que eu finjo não existir, mas que me marca a cada oportunidade imprevista de nós.
É a vontade de mudar o trajeto em cada fim de dia, de me isolar naquele corpo em meio à falta de mobília,
em meio a almofadas, corredor, cozinha e armários.
Foi a perturbação da minha infância, o desafeto da adolescência, depois a tentação que morou ao lado, agora
a loucura do meu sexo.
Já acordei pensando nela e dei continuidade ao que fantasiei em sonho depois de acordado, já quis dormir logo como tentativa de
não imagina-la, de evitar querer possui-la; uma forma desesperada de tentar manter minha ordem - antes dela sempre bem estabelecida.

Gosto de vê-la chegando, quando atravessa a porta e chama em um tom quase sussurrante o meu nome.
Gosto de sentir meu cheiro na sua pele, de ver as marcar que deixo em seu corpo enquanto ela se veste em frente ao espelho.

Liguei. Estou aqui. Aparece para mim.
Foi aí que ela surgiu envolvida por seu vestido azul, meias pretas e unhas pintadas.
Entrou no meu carro e me ofereceu aquele sorriso que em cada ocasião me passa uma pista diferente.

Descemos as escadas e chegamos ao ambiente principal do restaurante, com aquela luz baixa e candelabros centrais em cada mesa.
Ela quis vinho.
Bebia cada gole suavemente,parecia brincar com a taça cada vez que a levantava.
Uma hora e meia. Foi o tempo que ela levou para decidir que queria me tirar dali.
Chegamos ao número 9.

O contraste mais inebriante de minha vida.
Aquele cabelo escuro, escorrendo por sua pele clara, pele que de tão clara marcava a cada toque,
a cada pressão de meu corpo, a cada passeio de minha boca.
Me vi suplicante.
Suplicando uma frase, suplicando aquela voz, suplicando uma peça a menos.

Eu suplicava, suplicava, suplicava....
Pedia que viesse mais perto, pedia que viesse pra mim, que ela fosse pra mim.
......E ela
Ela se exibia.
Mostrava as costas nuas e me olhava sobre os ombros, enquanto o vestido caía
e eu a esperava.
Se exibia e me engolia a cada riso que dava enquanto
falsamente submissa ficava de joelhos na minha frente.



Um comentário:

Marcela disse...

Madame Amarante o que é isso??? Muito bom! Volta a escrever aqui, sinto saudade da tua escrita.

bjss